quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Apresentação

A criação deste blog é uma ideia antiga. Como obcecado por música e pelos factos que a inspiram e rodeiam, fui acumulando ao longo dos anos algum conhecimento que, de uma forma ou de outra, teria de ser “despejado”. Numa fase da minha vida, isto motivou-me mesmo a querer trabalhar na rádio, algo que “contingências” pessoais e profissionais me “impediram” de fazer... Mas essa é uma estória que fica para outro dia...

Assim, nasceu a ideia de escrever num espaço da web; e numa altura em que a blogosfera está em declínio em favor das redes sociais como o Twitter ou o Facebook, nada melhor que criar... um blog.

Aqui vou transmitir a minha experiência e opinião sobre música. A música será preferencialmente Rock, porque é o que eu gosto, ouço e acompanho. E a opinião será sempre a minha opinião, com mau gosto ou bom gosto; garanto a quem quer que leia este blog que o que se escreverá aqui será sempre juízos de opinião e que cada um é livre de formar os seus.

O “core” deste blog será a análise a diversos álbuns e diversas bandas e artistas, que permitirá aos leitores uma orientação. Por exemplo, indicar os melhores álbuns de um determinado artista e em cada álbum determinar qual a melhor versão a adquirir, baseado nas versões que tenho e nas que já ouvi e segundo critérios de som (masterização e mistura) e de conteúdo (faixas extra, discos extra, etc.). Para além disso, sempre que achar pertinente, acrescentarei um enquadramento histórico do álbum.

Para tornar as coisas mais interessantes, os álbuns terão também um sistema de pontuação, que passo a explicar: cada álbum terá uma pontuação de 0 a 20, sendo que 10 remetem à classificação do álbum em si e 10 à classificação do artista. Destes 10 referentes ao artista, 5 são devidos à minha opinião e gosto pessoal pelo mesmo e 5 são devidos ao seu sucesso comercial. Confuso? Talvez...
Aviso desde já que este sistema é meramente indicativo e que não deve ser tomado como religioso.

Finalmente, espero que se divirtam e se informem com este blog. Se gostarem, não custa nada indicá-lo aos amigos ;-)

Bruce Springsteen - Darkness On The Edge Of Town



Ano: 1978

Classificação

Álbum: 10
Global: 18

Faixas

Lado 1
"Badlands" – 4:01
"Adam Raised a Cain" – 4:32
"Something in the Night" – 5:11
"Candy's Room" – 2:51

"Racing in the Street" – 6:53

Lado 2
"The Promised Land" – 4:33
"Factory" – 2:17
"Streets of Fire" – 4:09
"Prove It All Night" – 3:56
"Darkness on the Edge of Town" – 4:30


Todas as músicas escritas por Bruce Springsteen


História

Depois do enorme sucesso do álbum Born To Run de 1975, a expectativa era grande para saber o que é que Bruce Springsteen tinha na manga para o 4º álbum. No entanto os meses passavam, Bruce andava na estrada, estreando alguns temas novos e não havia notícias sobre o novo álbum...

O problema estava num contracto que ele tinha assinado em 1972 com o manager Mike Appel, num parque de estacionamento em New Jersey, sem sequer o ler. Este contracto estipulava que Bruce recebesse uma ínfima parte dos direitos de autor das músicas dos primeiros 3 álbuns e que os direitos de publicação fossem exclusivamente da editora. Assim, só em 1976, quando Jon Landau começou a estar envolvido nas decisões artísticas de Bruce e o aconselhou a analisar este contracto, Bruce se apercebeu do que tinha feito. Na sequência, Bruce despede Mike Appel e dão início a uma longa batalha jurídica que se arrastou pelos tribunais até 1977, sem que Bruce pudesse voltar ao estúdio, uma vez que Mike o tinha impedido de gravar com Landau.

Entretanto, Bruce era obrigado a continuar na estrada a dar concertos com a E Street Band, a sua única verdadeira fonte de rendimento. Em contrapartida, foi neste período que Bruce Springsteen e a E Street Band aperfeiçoaram as suas perfomances ao vivo, eventualmente ganhando a reputação de uma das melhores bandas rock ao vivo da história (facto que pude confirmar este ano em Santiago de Compostela, onde assisti a um dos melhores concertos da minha vida).

Resolvida a questão legal, no Verão de 1977 Bruce Springsteen avançou determinado para o estúdio com a E Street Band para gravar o seu novo álbum American Madness, nome que daria lugar ao mais apropriado Darkness On The Edge Of Town, lançado em 2 de Junho de 1978. Só que desta vez a determinação de Bruce Springsteen era bem diferente de Born To Run. Enquanto Born To Run era uma ode ao optimismo, à esperança e à mudança para um lugar e para tempos melhores (a metáfora nova-iorquina de “passar para o lado de lá do rio”); Darkness representa a percepção que afinal o lugar e os tempos para onde se mudou também têm os seus problemas e que a vida é isso mesmo: podemos andar a vida inteira à espera de um momento (Badlands), ou a perseguir um sonho (Something In The Night), mas no fim de contas os problemas com que nascemos (Adam Raised A Cain) vão acompanhar-nos para sempre.

Em suma, o optimismo e romantismo de Born To Run, dá lugar à desilusão e isolamento de Darkness On The Edge Of Town. O resultado foi um álbum bem menos comercial e com sucesso bem mais reduzido. Mas isso não incomodou Bruce Springsteen, uma vez que a sua motivação para este álbum era criar algo verdadeiramente seu, inserido nas experiências que estava a viver. A prova de que Bruce Springsteen não procurava o sucesso mainstream com este álbum é a escolha das músicas. Alegadamente, foram gravadas 25 músicas que não chegaram à versão final do álbum; algumas delas seriam oferecidas a outras artistas e resultaram em grandes êxitos (por exemplo, Because The Night a Patti Smith e Fire às Pointer Sisters); algumas delas apareceriam no álbum seguinte, o duplo The River; outras só chegariam na caixa de 1998 Tracks e outras ficariam pelas performances ao vivo.

E foi mesmo ao vivo que este álbum ganhou outra dimensão. A digressão de Darkness On The Edge Of Town ainda hoje é recordada como uma das mais intensas e lendárias da história do rock. A banda tinha chegado ao seu ponto alto, aperfeiçoando a performance dos temas novos e antigos. Mais que isso, alguns temas foram alongados, mais conhecidamente Prove It All Night, cuja versão no álbum durava 3:56, mas que ao vivo por vezes passava a marca dos 10 minutos. Aqui fica a interpretação ao vivo em Phoenix deste tema:




Desde 2008 que está planeada uma reedição alargada deste álbum, de onde se espera finalmente encontrar material áudio e vídeo da famosa digressão de 1978, nomeadamente o concerto em vídeo de Phoenix. Contudo, dos bootlegs que conheço, o melhor é sem dúvida o de 1978-09-19 - Passaic, New Jersey (que em vídeo só existe em qualidade bastante inferior a Phoenix). Deste concerto, ficam aqui Streets Of Fire e Racing In The Street.







Análise

Por me estar associado pessoalmente, Darkness On The Edge Of Town de Bruce Springsteen foi a primeira escolha para dissecação neste blog. No futuro, raramente um álbum terá um tratamento tão exaustivo com este. Este tratamento exaustivo deve-se não só ao facto de ser o primeiro álbum a aser analisado, como também por ter muito para contar.

A E Street Band está neste álbum “on fire”, principalmente com um Bruce Springsteen a tocar guitarra como se estivesse a defender a sua vida, um Roy Bittain a levar as emoções às teclas do piano e um poderoso Clarence Clemons nos solos de saxofone em Badlands, The Promised Land e Prove It All Night.

The Promised Land em Landover (1978-08-15):




É importante referir que se há dois álbuns de Bruce Springsteen que são essenciais, eles são Born To Run e Darkness On The Edge Of Town. Como já referi, são dois álbuns com um vibe completamente diferente, mas é esta dicotomia que os faz tão especiais. Ambos os álbuns são extremamente sólidos, isto é, estabelecem uma bitola alta de qualidade que raramente é rebaixada.

O álbum começa com um estrondoso Badlands (que ainda denota algum optimismo) e depois continua até ao fim do “Lado 1” com uma das sequências mais fantásticas num álbum rock: Adam Raised A Cain, Something In The Night, Candy's Room e Racing In The Street. É difícil escolher momentos altos ou baixos no Lado 1 deste álbum, devido à sua solidez.

No Lado 2, mais uma vez começa com um raio de optimismo em The Promised Land e também aqui prossegue com temas que transmitem dificuldades: Factory, Streets Of Fire, Prove It All Night e, no fim, quando já perdeu tudo, Darkness on the Edge of Town. Aqui, voltamos a ter uma selecção muito forte, com a excepção de Factory, que fica claramente num nível abaixo dos restantes temas. Para além disso, tanto Prove It All Night (com solos adicionais no início e no fim), como The Promised Land, Streets Of Fire e Darkness on the Edge of Town resultam melhor ao vivo do que no disco original.
Fica aqui o tema título Darkness on the Edge of Town, mais uma vez ao vivo em Passaic, New Jersey. Sublinhe-se que na introdução Bruce dedica a música a um amigo em dificuldades e tem a seguinte frase lapidar:

"At one time or another, everybody's gotta drive through the darkness on the edge of town"




Audio

Os álbuns de Bruce Springsteen nunca foram um exemplo de discos que tivessem um bom tratamento sonoro, sendo muitas vezes apelidados pelo audiófilos de “sonic mess”. No entanto, Darkness on the Edge of Town até se safa em comparação com Born To Run e principalmente com o faux pas sónico The River.

Para comparação, tenho 3 versões deste álbum:
LP – prensagem Holandesa dos anos 80
CD – 1ª prensagem europeia “Made In Japan” – CDCBS86061
CD – Mini LP – “Made In Japan”

A minha primeira escolha para ouvir este álbum é a prensagem Holandesa dos anos 80 em Vinyl, porém, nunca ouvi outra versão neste formato. Admitindo que o CD é um formato mais acessível, aconselho sem reservas a versão “Japan for Europe” (isto é, fabricado no Japão, comercializado na Europa) deste álbum, com Cat# CDCBS86061. Isto porque é aquela que mais se assemelha ao Vinyl, sem filtros de NR (Noise Reduction).
A versão Mini LP (uma réplica do LP original em tamanho CD) também é sonicamente muito boa, para além de ser um deleite para os olhos e ficar muito bem na prateleira... Porém, soa mais “digital”.
A evitar é a versão de stock dos anos 90 (isto é, que se normalmente se encontrava nas lojas), onde o som está largamente comprimido e portanto descaracterizado (Cat# COL CD 86061).